Não sou muito forte, embora meu psiquiatra, minha antiga pisicóloga, minha assistente social, meus amigos insistam que sou.

Aceitei a possibilidade e acho que caso seja mesmo talvez tenha herdado esta característica dos meus antepassados, não no sentido biológico, mas nas heranças culturais, nas estórias que me circundam desde pequena quando ainda me sentava no chão e olhava meu velho pitar o cigarro debaixo da mangueira.

História sobre a índia velha que teve que ser amarrada pra sair da sua terra. Sobre a luta do meu avô caixeiro viajante que ficou rico. Sobre a minha avó que chamava cobras pra perto de si quando rezava. Sobre minha sobrevivência como criança abandonada que fui.

Não tenho muito além de uma certa esperança -não sei se em mim, se em uma coisa que chamaria justiça-cósmica ou a coerência-final-de- todas-as-coisas.

Mas tenho certeza que preciso agora de uma mão sobre minha mão. Não quero e me recuso em perder a capacidade de amar, de ver, de sentir. Quero continuar alerta.

Que se necessário eu possa ter novamente o impulso do vôo no momento exato. Que eu não me perca, que eu não me fira, que não me firam, que eu não fira ninguém.

Quero me livrar dos poços e dos becos de mim.

Quero que meus olhos saibam continuar se alargando sempre.

Sinto uma dor enorme de não ser duas e não poder assim uma partir, e a outra ficar.

Volta a pergunta maldita: terei realmente escolhido o caminho certo?

E o que é certo?

" Digo que todo caminho é caminho porque nenhum caminho é caminho."