Tenho refletido sobre o silêncio e solidão, talvez por falar demais. De alguns dias pra cá, alguma coisa a cimentou a minha essência e me vejo perdida num mar de palavras tão profundo, que afoguei-me e não quero falar desnecessariamente.
Por curiosidade fui ler sobre meu poeta favorito, Manoel de Barros.
Eu não sabia que o Bernardo era MUDO.
"...Folheando o livro de registros do asilo, a religiosa Marlene Barbosa
da Silva, uma das supervisoras, localiza a ficha de Bernardo Vieira da
Silva, que Manoel de Barros trata por Bernardo da Mata nos livros.
Consta o nome da mãe, Benedita Vieira da Silva; a cidade de origem,
Cáceres, no Mato Grosso; e os responsáveis por ele: Stella e João Leite
de Barros. A data do nascimento registrada, 7 de fevereiro de 1916,
mesmo ano de Manoel de Barros, é duvidosa. Irmã Marlene admite que, em
meados dos anos 1990, foi feito um mutirão para confeccionar certidões
de nascimento para idosos que ainda não tinham, a fim de ajeitar para
eles uma aposentadoria. “Como muitos não sabiam a própria idade,
perguntávamos para algum parente ou para um patrão e fazíamos o registro
com aquela idade imaginada”, diz ela.
Bernardo é lembrado pela freira como um “vô” quieto, que andava com
os pés abertos, arrastando os chinelos. “Não dava trabalho nenhum e
comia um prato bom, apesar de não ir ao refeitório como os outros. A
gente levava a comida onde estivesse.” Manoel de Barros recorda os
pedidos de jornalistas de Campo Grande para conhecer Bernardo, quando
souberam que ele estava na cidade. “Alguns insistiram e eu levei lá para
conhecer e tirar fotografia do Bernardo. Ele dava cada risada. Ele ria
de tudo, era uma alma excepcional. Era só alma, não tinha corpo.”
A parte mais agradável do asilo é o pátio próximo à entrada com pés
de manga muito altos, de troncos grossos. À sombra deles, há mesas e
bancos em que os hóspedes do asilo jogam cartas, conversam, leem.
Bernardo nunca ficava ali. Preferia os fundos, especialmente o canto
esquerdo da varanda vazia, em frente a um quintal com coqueiros, árvores
de amora, jaca, mamão, maracujá e abacate. A grama nessa parte está
alta e, do canto de Bernardo, logo a vista chega ao muro dos fundos do
terreno e à parede do alojamento feminino, mas passarinhos e borboletas
amarelas ainda visitam o lugar.
Bernardo buscava sempre estar só. “Procurei por meia hora uma foto
dele nas comemorações que fazemos, mas não tinha nenhuma. Cheguei a
levá-lo pela mão à missa uma vez, mas, alguns minutos depois, vi que ele
tinha saído”, lembra-se a religiosa. Lá, confirmamos que o dono da voz
poética mais vigorosa na obra de Manoel de Barros e quem soube comunicar
valores que formataram a poesia dele só expressava suas vontades com
sinais da mão ou com os grandes olhos. Bernardo era mudo. Lúcia Castello
Branco pensa que isso é a confirmação da poesia. Em um programa
inusitado, 15 anos atrás, ela passou uma tarde em silêncio com Bernardo e
Manoel. “Poesia é quando o silêncio fala. Manoel faz o silêncio de
Bernardo falar, dá um estatuto poético para o silêncio dele.”...
Trecho extraído do link: http://www.revistabrasileiros.com.br/2013/01/o-poeta-e-bernardo/#.VGI7hsneLcY
imagem: empsicologiaessencial.blogspot.com
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